Posted by : dR.mIX² sexta-feira, julho 26, 2013

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The Last of Us não é um jogo divertido em muitos aspectos. The Last of Us é um jogo que te deixa cansado, que te pune psicologicamente e faz com que exaustão e pensamentos nada agradáveis te acompanhem quando você desliga o PlayStation 3 após uma sessão, seja ela de trinta minutos ou de três horas. The Last of Usé também um dos grandes títulos dessa geração, muito mais relevante, necessário, forte e impactante que toda a franquiaUncharted, da Naughty Dog – responsável por ambos os games.
Antes de qualquer coisa, vamos refletir: o que acontece quando você perde as coisas mais importantes e preciosas da sua vida e, vinte anos mais tarde, se vê inserido em um mundo horrível no qual as pequenas vitórias são calculadas não por longos períodos, mas por dias, horas ou talvez minutos? Como sobreviver em um universo repleto de seres infectados e saqueadores ignorantes, onde a violência é essencial e comida, munição e esperança são escassas?
Joel, nosso personagem principal, sabe bem o que é isso. Ele é um sujeito visivelmente triste, cansado e desconfiado por uma série de razões, que conhece o quão feia é a realidade lá fora. Por outra série de motivos, sua missão é levar Ellie, uma menina de 14 anos que fala mais palavrões do que eu e você juntos, até um grupo que basicamente pode ter a solução para salvar a humanidade do desaparecimento.
O percurso, claro, não é fácil. Em The Last of Us, os erros são punidos de forma brutal e violenta, especialmente quando cometidos diante de um clicker. Clickers são pessoas infectadas em um nível avançado. São seres cegos por conta do grande fungo que cobre seus rostos, mas com excelente audição. Eles se guiam através da ecolocalização, como os morcegos, por isso conseguem te encontrar caso você faça barulho ou se movimente na frente deles.
Por serem extremamente fortes, não é uma boa ideia irritar um desses infectados. Quando isso acontece, eles quase sempre conseguem passar por suas armas e o resultado mais provável é a morte. Você tem uma chance melhor, por exemplo, contra os demais infectados (runners e stalkers) ou até mesmo contra os humanos. Por isso, não é exagero dizer que os clickers são os inimigos mais temidos e assustadores que você vai encontrar, especialmente por conta do barulho aterrorizante que fazem.
The Last of Us
Por outro lado, em certo grau os não-infectados podem ser até piores que os próprios clickers. Ao contrário dos monstros, eles têm plena consciência da maldade que fazem ao matarem e saquearem outras pessoas. Mas também podemos teorizar que esses humanos simplesmente ficaram loucos por conta do ambiente que vivem e da realidade dura que precisam enfrentar. De certa forma, dá pra dizer que eles também estão infectados.
É difícil colocar rótulos em The Last of Us. Sim, survival horror está entre eles e é um bom jeito de classificar parte do jogo. Mas, muitas vezes, nos deparamos com tantas elementos de estratégia quando chegamos a um novo cenário – e, até porque nunca é possível pausar o game para usar medicamentos ou melhorar suas armas, tudo deve ser calculado com antecedência –, que é uma injustiça colocá-lo em uma só caixa. Acredite em mim quando eu digo que você nunca mais vai olhar para um tijolo ou uma garrafa vazia da mesma forma depois de passar por tantos maus bocados ao lado de Joel e Ellie.
The Last of Us é também um jogo sobre ambiguidades. Sobre o claro e o escuro das coisas da vida, dos ambientes aos próprios pensamentos daqueles que estão envolvidos em sua trama. De vez em quando nos encontramos dentro de corredores claustrofóbicos e assustadores, sem luz e cheios de esporos, mas também há momentos em que nos deparamos com maravilhosas e calmas cenas da natureza, do sol que ainda insiste em banhar a Terra e dos pássaros e outros animais aparentemente alheios ao que está acontecendo. É sobre a bondade e a maldade caminhando de mãos dadas e sobre a dificuldade de distinguir o certo do errado.
Os diálogos também estão entre os melhores e mais convincentes dos últimos tempos quando olhamos para as diversões eletrônicas interativas, e as conversas mais interessantes acontecem justamente quando você está jogando e caminhando, e não em cutscenes. Isso torna a experiência mais dinâmica e real e, por isso, ficamos mais e mais apegados aos personagens ao longo da trajetória.
É claro que todo esse pacote de sensações e sentimentos é amplificado muito por conta da magnífica trilha sonora de Gustavo Santaolalla (argentino que já fez música para filmes como 21 GramasO Segredo de Brokeback Mountain e Diários de Motocicleta). Ela dá o tom certo ao universo de The Last of Us, à falta de esperança e à solidão que preenche prédios e espaços anteriormente habitados por famílias e hoje cobertos por plantas e várias memórias. Os temas sonoros são minimalistas e acompanham mais o vazio interno e externo do que o terror, o que faz bastante sentido.
Muito além de ter um final surpreendente ou não (ou independente da sua expectativa sobre ele),The Last of Us é ainda sobre a jornada. É sobre seguir em frente mesmo sem saber o que tem do lado de lá, sobre as frágeis relações humanas que se tornam fortes e depois se despedaçam, sobre caminhar por longos períodos de um lado ao outro com medo percorrendo o corpo e frio na barriga.
Nesse sentido (e em vários outros), o jogo novo da Naughty Dog é completamente diferente deUncharted. Joel não quer ser o protagonista como Nathan Drake. Ele é egoísta e, apesar de ser muito violento (e de se tornar cada vez mais ao longo do jogo, muitas vezes de forma até desnecessária), é extremamente vulnerável. Um sujeito com raiva contida e traumas, que não tem muito senso de humor e que já está um pouco maltratado por conta da rotina de sobrevivência a qual foi imposto.
Ele também não sabe escalar paredes como um artista de circo, necessitando sempre da ajuda de uma escada – como eu e você. Joel não salta como um super-herói, não tem o suposto carisma de Nathan e não parecer ter interesse em cativar o coração daqueles que cruzam seu caminho. Por experiência própria, ele sabe que essas pessoas podem morrer a qualquer momento.
O final do jogo é um dos mais convincentes e realistas que vi em anos. Claro, talvez não seja o desfecho ideal ou o mais justo, mas quem disse que assim é a realidade? The Last of Us é como um soco no estômago, um jogo que nos entrega uma lição muito verdadeira a respeito das relações humanas e do que acontece aqui fora, embora muitos não queiram enxergar. O mundo é feio, pessoal. E nós humanos somos os verdadeiros culpados por isso.

The Last of Us

1011902_474834879273110_2086209882_nCom uma jornada inesquecível e uma narrativa que te prende do início ao fim, The Last of Us está entre os títulos indispensáveis dessa geração. O survival horror mesclado com estratégia, os personagens cativantes e as histórias tristes e realistas são apenas alguns dos elementos surpreendentes do game. Mesmo que visualmente incrível, ele não é perfeito, especialmente quando olhamos para a parte técnica, com alguns problemas claros de IA, além de glitches e bugs aqui e ali. Mas tudo isso passa bem longe de arruinar ou sequer comprometer a experiência final – essa sim, digna de nota.
Plataforma: PlayStation 3
Desenvolvimento: Naughty Dog
Distribuição: Sony
Lançamento: 14 de junho de 2013
Preço: R$ 149,99

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