Primeiro de tudo. Isso não é uma crítica musical, apenas um relato de uma noite que poderia ter sido perfeita. E não foi.
Desde muito tempo Eric Clapton é um dos meus maiores ídolos musicais. Não só por sua incontestável capacidade de fazer uma guitarra cantar, mas também por sua carreira cheia de altos e baixos e sua conturbada história pessoal. Acho que isso agrega uma camada extra ao artista que, somada a seu talento, resulta em canções memoráveis e sempre passionais. Clapton não faz música porque gosta. Clapton faz música porque precisa. Isso faz toda a diferença.
Dito isso, comprei meus ingressos para assistir o deus da guitarra aqui em Porto Alegre, na última quinta-feira, 6 de outubro. O drama começa aí. A produtora do show, XYZ Live (guardarei esse nome) resolveu dividir a platéia em vários setores: Cadeira Ourocard, em frente ao palco custando R$550! Pista Premium, atrás das cadeiras, custando R$300. Camarote, custando R$400. Vip Lounge, por R$700. E, finalmente, a famigerada Pista por R$180. Dou uma chance para adivinhar em qual dessas opções me enquadrei. Pois é: pista.
Até aí, tudo bem. No dia do show, depois do esperado engarrafamento na principal via de acesso à FIERGS, que abrigaria o show, acabei estorquido em R$40 para colocar o carro em um “estacionamento” próximo ao local, que nada mais era do que um terreno enlamaçado cercado por uma fita amarela. Tudo porque a produtora do show informou que o estacionamento da própria FIERGS estaria fechado, o que não ocorreu. Quem não buscou a informação antes conseguiu estacionar com muito mais conforto do que quem se preocupou antecipadamente com essa questão. Ponto para a desorganização do evento.
Acessando o local do show, já dava para notar de cara que 30% do espaço da pista era inutilizado graças a uma enorme torre de equipamentos. Normal em grandes shows, e sem maiores problemas se o público pudesse se deslocar para as laterais para enxergar algo do palco. Isso, claro, não ocorreu. A única alternativa se tornou assistir o espetáculo pelos telões, mas como nada foi fácil nessa noite, as luzes dos postes do estacionamento não foram apagadas durante o show, fazendo com que ficasse extremamente incômodo sequer manter muito tempo os olhos na tela.
A venda de bebidas é um capítulo à parte em qualquer evento em terras brasileiras, e com Eric Clapton não foi nada diferente. Apesar de existirem ilhas de venda de bebidas mais ou menos a cada 30 metros, os vendedores ambulantes tomaram conta da noite, e o som extremamente baixo que vinha das caixas, fez com que fosse mais fácil ouvir os gritos de “refri, cerveja e água” do que a voz da guitarra de Clapton. Lamentável.
Podem me chamar de ranzinza, mas não é possível que para se assistir um espetáculo de qualidade, sem desembolsar uma pequena fortuna, tenhamos que ser tratados como animais em um curral, sem o mínimo de conforto e consideração. Esta foi a última grande turnê de Eric Clapton, e dificilmente terei a chance de vê-lo tocar ao vivo novamente, a não ser que viaje para o exterior. Assim como eu, muitos dos 12 mil pagantes que estavam no setor menos favorecido da platéia partilhamos da mesma experiência lamentável de ver um dos maiores músicos em atividade desta forma. Só mesmo o slowhand para valer tanto esforço.




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